Com o Troféu Cidade de Gramado em mãos, Ney Latorraca comemora: “Não tenho do que reclamar, deu tudo certo na minha vida”

Com o bom humor e a irreverência que lhe são característicos, Ney Latorraca fez o público do Palácio dos Festivais sorrir de ponta a ponta durante a sua homenagem no 46º Festival de Cinema de Gramado. Os mais de 50 anos de carreira do ator foram celebrados com o Troféu Cidade de Gramado, entregue por Cláudia Raia, grande amiga de Ney que chegou de surpresa em Gramado, sem que o homenageado soubesse de sua vinda ao evento. “Um ator único, com uma carreira singular. Um amigo que traz alegria a todos os colegas que tem a honra de compartilhar do seu talento, da sua seriedade com o trabalho, do seu amor pela profissão. Com admiração, eu vim a Gramado falar sobre o profissional, sobre o homem, sobre o amigo, sobre o meu irmão, o meu primeiro amigo no Rio de Janeiro que me recebeu de portas abertas, que me acolheu, que me alimentou, que me abraçou”, lembrou a atriz, emocionada, subindo ao palco do Palácio.

Ao lado de Cláudia Raia, Ney lembrou de como chegou ao Rio Grande do Sul, influenciado por outros dois colegas atores. “Eu vim muito a Gramado e, depois de muito tempo sem vir, consegui voltar. E a cidade está linda! Nesse retorno, não posso deixar de lembrar das duas pessoas que me apresentaram ao povo gaúcho: Walmor Chagas e Lílian Lemmertz. Assim como a Cláudia Raia e o Rubens Ewald Filho, foram duas pessoas importantíssimas na minha vida e na minha carreira”, recordou o homenageado. Aplaudido de pé, Ney celebrou o momento lembrando  ainda de sua infância feliz, mesmo com as dificuldades financeiras vividas pela família: “Hoje eu olho para trás e vejo que não tenho do que reclamar. Tudo deu certo na minha vida”. Apadrinhado em batismo por ninguém menos que Grande Otelo e nos palcos de teatro pela inesquecível Marília Pêra, Ney, que está em Gramado desde quinta-feira, quando já foi ao Palácio dos Festivais conferir “10 Segundos Para Vencer”, reivindicou, com seu humor habitual, aplausos calorosos da plateia: “Hoje vou dizer uma coisa para vocês: eu quero aplausos, por favor, porque eu estou carente!”.

Em 54 anos de carreira, Ney atuou em mais de 20 longas-metragens, entre eles, “Ópera do Malandro”, de Ruy Guerra, onde contracenou com outro ator homenageado no Festival de Cinema de Gramado deste ano: Edson Celulari. Outro trabalho citado com carinho pelo ator é “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil” e, claro, os três filmes que realizou em parceria com o diretor Luiz Carlos Lacerda, o Bigode: “Viva Sapato!”, “For All – O Trampolin da Vitória” e “Introdução à Música do Sangue”. Quem acompanhou de perto toda essa trajetória foi o crítico de cinema e curador do 46º Festival de Cinema de Gramado, Rubens Ewald Filho, que, assim como Ney, nasceu em Santos, no estado de São Paulo, onde se conheceram na infância. Rubens escreveu para o catálogo oficial do evento um texto em homenagem ao amigo, que pode ser conferido abaixo, na íntegra:

“Difícil encontrar alguém com a vocação para ator desde cedo como o Ney Latorraca. Certamente é por ser filho de atores: o pai foi cantor famoso do Cassino da Urca e chegou a gravar uma música “Adeus, Guacira” para o último filme da Vera Cruz, “Floradas na Serra”. E foi justamente no Cassino que reencontrou a Dona Nena, mãe do Ney. Eram anos difíceis porque o Presidente Dutra fechou os cassinos e sem justificativa, a não ser falso moralismo, deixou desempregado um número imenso de atores, músicos e profissionais. Foi assim que eles vieram para Santos, onde Antonio Ney nasceu numa casa modesta, que existe até hoje porque fica diretamente em frente ao estádio do Santos Futebol Clube na Vila Belmiro.

Nestes muitos anos de amizade, nunca vi Ney ser desonesto ou falso. Tinha, sim, uma profunda vontade de representar e de não fazer apenas comédia, que, para ele, era uma coisa fácil, mas também interpretar Shakespeare e textos difíceis, de preferência dirigidos pelos melhores realizadores, como Celso Nunes, Ademar Guerra. Logo depois, na televisão, foi descobrindo os parceiros certos, quando passou a trabalhar com um dos melhores, se não o melhor diretor de series e teleteatros brasileiros: Walter Avancini. Os dois se davam como ninguém. E o que fizeram juntos ainda hoje é clássico: “Rabo de Saia”, “Anarquistas Graças a Deus”, “Memórias de Um Gigolô”.

Com o Ney é difícil ter limites, e não é à toa que, neste mesmo momento, ele estava viajando as capitais mais importantes do Brasil com o musical “Vamp”, o revival de um antigo sucesso da novela que virou um brilhante refresco para todo mundo que ainda morre de rir com as brincadeiras do Ney. Naturalmente, todo mundo também se lembra da TV Pirata, onde ele deixou marcado para sempre o icônico Barbosa, aquele velho que eu bem vi nascer.

Tive a sorte de acompanhar os melhores filmes do Ney, que é apaixonado por cinema e estreou fazendo ponta em um filme do cineasta mais querido de São Paulo, Carlos Reinchebach. Depois, foi grande parceiro de vários filmes com o mestre Ruy Guerra (como em “A Bela Palomera”, “Ópera do Malandro”). Foi um inesquecível Padre Anchieta nas mãos de Paulo Sarraceni. E até no SBT o Ney fez uma participação especial, doando o cachê para crianças, na minha versão de “Éramos Seis” com o Silvio de Abreu.

É verdade que há poucos na arte brasileira tão engraçados quanto ele e muitos são os que tentam o imitar. E não é lenda que Ney e Marco Nanini marcaram época com “O Mistério de Irma Vap” a maior comédia do teatro já vista no Brasil. Amigo de seus eternos amigos — Marília, Irene, Fernanda, Aracy, Gloria —, Ney é um ator completo e um ser humano muito especial”.

(Texto: Matheus Pannebecker / Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto)

Ministério da Cultura, Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer e Snowland apresentam o 46º Festival de Cinema de Gramado. Lei de Incentivo à Cultura. Patrocínio: Stella Artois e Casa Aveiro By Dolores. Copatrocínio: Banrisul – Seja Vero. Apoio especial: Gramado Parks. Apoio: Stemac Grupos Geradores, Lugano, Cristais de Gramado, Viviela London, G2 Net Sul e ENIT – Agência Nacional de Turismo da Itália. Apoio institucional: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Fundacine, ACCIRS, IECINE, APTC/ABD RS, SIAV e Museu do Festival de Cinema de Gramado. Agência Oficial: Vento Sul Turismo. Transporte Oficial: Kia. Agente Cultural: AM Produções. Promoção: Prefeitura de Gramado. Financiamento Pró-Cultura RS, Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Realização: Gramadotur, Ministério da Cultura, Governo Federal.

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